Friday, June 29, 2007

Uma pausa para o café

O Por Mais Leitura dá uma pausa nesse mês de Julho. Não haverá roda de leitura no Dragão e há nenhum tipo de reunião programada. Isso porque até o que é bom às vezes é demais. Vamos nos dar um descanso, dormir, fazer esportes, ir ao teatro, cinema, praia, serra, etc. E ler, claro. Aproveitem as férias também, mesmo quem não vai ter férias agora. Usem bem os sábados que normalmente vocês separavam pra gente.

Vou tentar atualizar o site esporadicamente durante esse próximo mês com dicas de Leitura, provavelmente o que eu irei ler nessas férias. Continuamos, portanto, aceitando contribuições! Mande sua resenha, qualquer texto contendo suas impressões sobre um livro que você leu, ou artigo sobre algum tema em literatura, que nós prometemos publicar, com seus créditos e tudo direitinho. Nada melhor do que a visão dos livros por quem os lê.

De qualquer forma, não precisa sentir tanta saudade: em Agosto estamos de volta, no saguão da Leonilson e em outros lugares. Aguardem!

*contato: pormaisleitura@gmail.com

Friday, June 22, 2007

#69 Roda de Leitura Por Mais Leitura

A última roda foi muito legal, o tema Literatura e Sexo tirou um pouco a nossa vergonha e lemos coisas que realmente não costumamos ler. Marina Colasanti para maiores(quando só conhecia o trabalho infantil dela), os contos infantis pervertidos por Hilda Hist(que eu lembre só tinhamos lido coisas líricas dela), entre outros. Isso sem falar em dois contos autorais bastante picantes, um muito bem sacado, o do Márcio Araújo, além do texto engraçadíssimo do Guilherme Linhares.

Nesse sábado agora, devido à boa repercursão do primeiro encontro desse mês, estaremos de novo com o tema literatura e sexo.Escolham seus textos, sejam de sua autoria ou não, e venham compartilhar conosco. O prazer é todo nosso(porque não poderia faltar a piadinha de duplo sentido). Ah, e como não podia faltar, aqui a propaganda capiciosa que eu fiz para o encontro: http://sp2.fotologs.net/photo/34/59/11/pormaisleitura/1182353856_f.jpg;

Até lá!

Local: saguão da biblioteca leonilson, dentro do museu de arte moderna do Dragão do Mar.
Horário: de 15 às 18h.
Data: sábado próximo, dia 23 de junho.
Tema: Literatura e Sexo.

Monday, June 18, 2007

Ler livros com ação e sexo gasta o dobro de calorias

Hoje exepcionalmente não vou postar a seção ''Minha Leitura'', que ficou ao meu cargo nessa segunda-feira. Isso simplesmente porque não consegui terminar o livro sobre o qual pretendia postar. Sabe como é, final de semestre na faculdade é complicado... Para não deixar nossos leitores na mão, o que seria uma indelicadeza terrível, visto o tema do mês(ver outros posts), trago essa pequena e curiosa notícia retirada do site http://www.ciaboanoticia.com.br.



Uma pesquisa realizada na Grã-Bretanha reforçou o antigo princípio da "mente sã, corpo são", ao descobrir que a leitura de um livro recheado de ação e sexo gasta duas vezes mais calorias que ficar parado.A pesquisa, encomendada pela cadeia de livrarias britânica Borders, comparou as calorias necessárias para se ler diferentes tipos de livros. O resultado foi uma lista das obras que mais ajudam a emagrecer.Parado, o corpo humano gasta uma caloria por minuto. Mas os cientistas descobriram que livros de aventura, sexo e ação podem até dobrar essa taxa.A razão, segundo eles, é que as tramas rocambolescas levam o corpo a produzir mais adrenalina, hormônio que reduz o apetite e queima caloria."A ciência é clara", disse uma porta-voz da Borders, Caroline Mileham. "E se a idéia pegar, temos de considerar uma seção dedicada aos livros que queimam calorias!"

Wednesday, June 13, 2007

a Mulher para além do Sexo.

Que "Mulher", vocês me perguntariam, e eu diria: todas, talvez. Mas escolhi aqui uma, a minha preferida, vamos dizer, e preferida também porque muito me representa:
Hilda Hilst aqui já bem apresentada pelo Ary (ver post "O caderno rosa de Lori Lamby"), mas que continua sendo minha amiga de cabeceira, sobretudo e sobre todos.

Mas por quê, então, esse título de "a Mulher para além do Sexo"? Nada mais simbólico nessa temática de Literatura e Sexo, permeando entrementes o Erotismo, nada mais simbólico do que falar de mulher, e com aquela que, na minha opinião, é a Mulher das mulheres.
Falando especificamente dela, a Hilda, que foi durante toda a vida vista como uma "escritora erótica", e nada que a irritasse mais. Não por renegar o erotismo de seus versos, mas por achar esse rótulo demais limitado - e, no fim das contas, O QUE É LITERATURA ERÓTICA?

Devo dizer que sou uma leiga. E, aliás, toda vez que leio algo que pra mim soa erótico explicíto, de cara já desgosto, e não é por pudor excessivo: é que aquele tipo de palavras (senhor, nada pior que uma "buceta" no meio do parágrafo :P), aquela linguagem bordelística, sinceramente em nada me atrai. E aí me coloco não mais como Marília, mas como mulher lendo essas linhas (e vamos abstrair de coisas como "pudor" ou "criação paternalista", sim?): isso sinceramente não me toca. E a palavra no meio do texto podia ser pinto, pênis, pau, qualquer coisa, isso nunca me remete sequer a imagens, porque eu pulo essas linhas.

E então deixa logo eu dizer: pra mim Literatura e Sexo não é só literatura erótica. E aqui entendamos literatura "erótica" como aquelas coisas em que o sexo está explícito, o ato em si, as terminologias anatômicas, anacrônicas e até vulgares. Eu gosto de ler Hilda Hilst quando ela fala de Sexo. E por quê? Porque ela sabe falar. Não vou aqui defender que ela saiba falar PORQUE é mulher. Mas de todas as coisas no mundo que eu leio sobre Sexo, sempre me atraem mais as escritas por mulheres. Tem o fator também de que a maioria dos autores conhecidos são realmente homens, inclusive nessa temática, e sempre o sexo, o ato, o coito, fica descrito pelas mãos de um homem: a visão da mulher, também, pelos olhos de um homem. E ouso pensar que é porque SOU mulher, é claro. Minha identificação vai por quem me representa: e olhe que já vi muitos autores homens representarem muito bem o universo feminino - mas sem dúvidas ninguém jamais bateu a Hilda.

Deixarei aqui pra apreciação das senhoritas, senhoras e, só depois (brincadeira!) dos senhores leitores.. hehehe Alguns poemas que selecionei como simbólicos na escrita da Hilda :) e que eu diga ainda que ela não escreveu só isso. Fez poema, prosa, peça, romances lindíssimos. Ela gosta de tratar da temática do Sexo, sim, mas ouso falar que nenhum jamais o fez daquele jeito, e tão bem. Aqui um do "Prelúdios: intensos para os desmemoriados do amor", um muito bom pra quem queira conhecê-la:


I
Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.



E por que haverias de querer...
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro.
E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

O interessante, na Hilda, é quando ela, em poema ou prosa, fala como homem - e sobre Sexo. A exemplo do "Cartas de um sedutor", onde o protagonista é um homem, são olhos de homem, mas é incrível como ainda nas maiores sacanagens eu sinto que é uma mulher. Não sei se acontece com todo mundo, não sei se essa minha "impressão" se dá porque eu já SEI que é a Hilda, mas enfim: é um fato, negar não vou. Inclusive adorei esse Cartas de um sedutor, apesar de, como eu disse, não ser muito meu estilo, a Hilda consegue até driblar meus gostos. Prefiro ela o lado lírico, mas pra quem ainda não leu: perder os outros é bobagem, viu. Anotem. Nessa mesma esteira, vai também o "Contos D´Escárnio", que é muito interessante também.

E como o título do post é "a Mulher para além do Sexo", finalizo com um poema escolhido a dedo, pra dizer que ela também foi bem além disso. Sexo sim, Amor mais ainda, e por favor não lembrem a música da Rita Lee hehehe Apesar de a Rita Lee ser outro símbolo das mulheres com essa bandeira de "Contra os pudores ridículos". Gosto da Rita Lee. E lembremos aqui de outra grande (porém não tão conhecida, o que é uma pena): ANA CRISTINA CÉSAR. =)

Cantares do Sem Nome e de Partidas
[Hilda Hilst]


Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.

Friday, June 08, 2007

Roda de Leitura no Dragão: Literatura e Sexo

Escolha seu texto, seja autoral ou não, leve pra roda, leia, discuta. É basicamente o que se constitui a Roda de Leitura que organizamos, quinzenalmente, no Centro Cultural Dragão do Mar. É uma idéia muito simples, se trata somente de criar um espaço para a leitura e discussão de textos literários, cuja escolha fica a critério de seus participantes. A entrada é livre e gratuita, e não existe nenhum pre-requisito, a não ser a boa-vontade.

Por isso não percam nesse sábado, dia 08, a partir das 15h, na biblioteca leonilson, a Roda de Leitura Por Mais Leitura. Esperamos você lá.

quando: sábado, dia 09/06
horas: 15-18h
local: biblioteca de artes visuais leonilson(dentro do museu de arte contemporânea do dragão do mar)
quanto: grátis

Thursday, June 07, 2007

Para além da roda: A sacanagem rola há muito tempo

O beijo, de Auguste Rodin(1988-89)


Para quem não sabe, o tema do mês nas rodas de leitura do Por Mais Leitura é ''Literatura e Sexo'', e ficou incubido a mim a tarefa de fazer o primeiro post abordando o assunto. Fiquei um tanto incerto sobre o que postar, por acreditar que até hoje consumi muita pouca coisa que poderia ser considerada ''erótica'', ou de um apelo sexual mais forte, mas aí entra a questão: o que está em jogo quando se usa o conceito de Sexo e Literatura? A simples descrição de um coito? Creio que não, posto que a sexualidade do ser humano não se restringe ao ato sexual em si. Pelo contrário, se relaciona aos mais diversos aspectos da sua vida, está ligado diretamente com nosso relacionamento com as outras pessoas, seja através da identidade de gênero que se constitui de acordo com nossa cultura em relação ao sexo, ou a um aspecto menos freudiano e menos tangível como amor. Mesmo que esse amor não seja aquele ensinado por 2000 anos de tradição judaico-cristã na civilização ocidental.

Trata-se portanto de um tema bastante rico e amplo, mas para fazer esse primeiro texto é preciso uma delimitação. A que faço é de fazer um pequeno recorte dentro daquilo que foi produzido na literatura em torno do sexo desde os tempos mais remotos até o início da idade moderna. E mais especificamente aquilo que aborda de maneira mais ou menos direta o ato sexual em si, o que como já disse é apenas uma das maneiras de se abordar o tema. Faço isso porque muitas vezes o apelo sexualmente explícito de textos literários parece algo circunscrito a uma certa literatura contemporânea, a alguns autores considerados malditos ou marginais. E o que é pior, esses autores muitas vezes tanto se consideram quanto são considerados ''transgressores'', ou responsáveis pela introdução de alguma novidade temática. Patavinas.

Prova cabal disso são os dois primeiros texto que foram postadso na Roda Virtual, ambos da Idade Clássica e, por incrível que pareça, não são livros marginais ou exceções dentro daquilo que se produzia na sua época. Pelo contrário, os dois textos que escolhi para abrir a série de posts são textos sagrados para suas respectivas culturas, no caso trechos de um livro da Bíblia, o Cântico dos Cânticos, que é repleto de descrições de relações amorosas, e o poema De Amaru, texto clássico da poesia Hindu. Estranho que o sexo esteja tão presente em textos sagrados? Ué, nada mais natural a presença do tema já que estes livros pretendem, de uma forma ou de outra, serem guias para seus seguidores. Não poderiam portanto deixar de abordar o sexo, de maneira nenhuma. O que ele faz, entretanto, e talvez por isso chegue a passar despercebido(a sutileza dos textos mais uma dose cavalar de pudor e hipocrisia, na verdade). Essa sutileza se dá na forma extremamente poética e onírica, com o predomínio do uso das metáforas em vez das descrições objetivas.


Essa abordagem sacralizada do sexo, aliás, é bastante interessante, posto que o tema aparentemente sempre oscila entre dois extremos: ou entre a extrema idealização ou a simples banalização, ou seja, a abordagem crua, chocante, tão praticado por alguns escritores contemporâneos. Essa estética do choque, entretanto, me parece um tanto ineficiente em um mundo que tem o sexo e os clichês pornográficos já tão saturados. Um dos autores cujo texto vem a seguir, porém, é justamente Sade, talvez aquele que foi mais explícito e mordaz na sua abordagem do sexo, sua única temática, aliás. A investida do autor, entretanto, parece válida dentro do seu contexto, já que haviam então fortes insituições que delimitavam o que era admissível ou não no comportamento sexual das pessoas. É aí que sua abordagem caústica dos frades e das moças e rapazes de família da França do século XVII não parece gratuita. Isso sem falar que o autor se salvou do abismo da pretensão exarcebada do se levar a sério demais através de um apurado senso de humor, que, ao contrário do sexo, fica sempre na entrelinha daquilo que é mostrado.

Caminho semelhante segue o menos conhecido Giovanni Boccaccio, que em plena peste negra, na Idade Média, escreveu Decameron, obra conta a história de dez personagens que, para fugir da peste, refugiaram-se em um castelo, onde nada havia a fazer senão contar histórias para passar o tempo. Estas abrangem os mais peculiares comportamentos humanos, especialmente o sexual, as práticas que fugiam da moral vigente.

Para finalizar, temos os textos de Safo provando que a abordagem do homoerotismo também não é nem de longe algo recente. A poeta viveu no século VII antes de Cristo, portanto muito antes de um Caio Fernando Abreu ou de um Jean Genet, e foi provavelmente uma das primeiras escritoras a ter sua imagem pessoal fundida/confundida com sua escrita, o que abre semelhança principalmente com o primeiro autor citado. Isso porque, apesar de ter escrito vários poemas em que seu eu-lírico faz declarações de amor(e sexo) para mulheres, não há nada que comprove historicamente que a poetisa possuia realmente comportamento ''homossexual''. Um poeta grego é que, depois de cinquenta anos de sua morte, espalhou a versão de que Safo, que fundara uma academia para jovens mulheres, possuia relações físicas com suas alunas. Se ela era ou não lésbica, pouco importa, o mais interessante de observar é que a simples hipótese foi tomada como certeza, o que foi o suficiente para ter a poetiza como ''maldita'' por bastante tempo. De qualquer forma, um belo exemplo de confusão entre vida e arte. Ou uma das primeiras autoras a atravessar essa fronteira, coisa que se tornou tão comum desde o último século. Mas isso já é outra discussão.

Como vimos, há bastante pano pra manga quando vai se discutir Sexo. E Literatura. Tentei começar de um ponto de vista inusitado, justamente pra mostrar essa riqueza de assuntos. E se você quiser falar sobre o assunto também, já sabe, é só mandar e-mail pro pormaisleitura@gmail.com. Aqui, como a roda, é um espaço livre para a discussão. Sem censura.

*Os textos que selecionei para ilustrarem esse texto, por serem muitos e alguns um pouco longos, estão postados no Roda Virtual.

Monday, June 04, 2007

Minha leitura: Distraídos Venceremos.










[Paulo Leminski]


Escrevo. E Pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhace,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel, quando o poema me anoitece. A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
[Razão de ser]


Acho sinceramente este um livro a ser degustado. Em que já na primeira página, no que se chamaria “prefácio” e Leminski batiza de “Transmatéria Contrasenso”, surge um haicai (ou devo dizer Poetrix? Porque há quem se bata nessas classificações... Brigas, a meu ver, completamente bobas):

É quando a vida vase.
É quando como quase.
Ou não, quem sabe.

E é nessa poesia cheia de silêncios, que lida mais com a empatia e a compreensão individual no seu viés mais intimista (e não por isso apartada de contexto universal e problemáticas sociais.. ;) que encontramos os poemas de Leminski. Pra quem não sabe, acho que convém dizer que o Leminski queria ser um grego nos tempos atuais – e aqui me permitam rir, ele riria também. Poeta, cronista, cineasta, professor de história, literatura, publicitário, tradutor, professor de – o que foi mesmo? Kung fu? É tanta coisa que a gente até se confunde. Mas sim, mexeu com música também. (obs: diz-se que esse título, “distraídos venceremos” é mesmo com relação ao kung fu e uma opinião que ele expressou um dia – agora imaginemos a cena! Eu pensaria: ok, mas não tão distraídos assim.)Um maluco muito lúcido, vamos dizer. Verdade é que encontramos pelos versos desse homem uma pluralidade de temáticas que, no mais das vezes, extrapola qualquer temática, primando sempre pela identificação. Aquelas coisas de você ler e ficar em silêncio, por pura estupefação: de meu Deus, como ele disse isso e eu não? Hehehe Muito bom... Quando não é aquele existencial que dói, é aquele irônico afiado, ou o engraçado de coisas bobas, do próprio tom em que ele fala.

Dos meus preferidos, cito a segunda parte do livro, de título “Ais e menos”, a começar do título. E o poema “Três metades”:

Meio dia
Um dia e meio
Meio dia, meio noite,
Metade deste poema
Não sai na fotografia,
Metade, metade foi-se.

Mas eis que a terça metade
Aquela que é menos dose
De matemática verdade
Do que soco, tiro ou coice,
Vai e vem como coisa
De ou, de nem, ou de quase.

Como se a gente tivesse
metades que não combinam,
três partes, destempestades,
três vezes ou vezes três,
como se quase, existindo,
só nos faltasse o talvez."
e o incrível, simples e claro – e também sem título:

“ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga

ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa”
é um livro que seduz. Pela simplicidade, pela eficiência com que passa mensagens, e jamais mensagens simples: a simplicidade que eu digo é da leveza da leitura. Muita coisa em Leminski passa batido por ir além do que se imagina (claro que isso é da Poesia, e não só dele), e é num estilo que lhe é próprio que ele diz as coisas que ou queremos ouvir e nem sabíamos, ou preferíamos não saber. Tem muito de ironia, mas o que dele eu levo mais é a simplicidade, a beleza das coisas que ele captava como um poeta urbano, digamos assim, mas às vezes com a tristeza e a melancolia de um bucólico. Eu sei é que eu recomendo! Quem não leu, vá atras, e quem já leu, leia de novo, que o homem escreveu muita coisa e ainda há muito por conhecer ;)